Era uma vez um fazendeiro que possuía muitas terras, gado, ovelhas, porcos, galinhas, patos, enfim era um fazendeiro muito, muito rico. Mas seu coração era de pedra, sempre queria possuir mais e mais, nunca se sentia satisfeito com o que ele tinha. Judiava dos seus empregados e servos que trabalhavam de Sol a Sol, do amanhecer até o entardecer. Nunca recebiam uma só palavra de conforto ou de elogio.
Chegou a festa da Páscoa. Os servos já se alegraram, pensando que pelo menos este dia ia ser um dia de repouso e festa. Poderiam ir à igreja dançar e se divertir. Mas aconteceu que na véspera da Páscoa, no Sábado de Aleluia, o fazendeiro chamou todos os seus servos e disse com voz grave e bravejante: “Ainda temos que capinar um pedaço da minha terra. Amanhã cedinho vocês pegam as enxadas e o arado e tratam de deixar tudo limpinho, bem capinado e arado”.
– Mas amanhã é Domingo de Páscoa, retrucaram os servos. O senhor não acha que merecemos pelo menos um dia de descanso e alegria?
Mas o fazendeiro bradou: “Quem manda aqui sou eu, amanhã todo mundo aqui com sua enxada e arado”.
Os servos ficaram revoltados. Será que precisamos obedecer realmente ao nosso fazendeiro? No meio da turma tinha um camponês pensativo e quieto.
No dia seguinte todos eles foram trabalhar, tristes e revoltados. Só um deles estava calmo e feliz: ele colocou uma vela em cima do arado, e assim andou calmamente atrás do arado. E embora o vento soprasse com força, não conseguiu apagar a vela. Assim continuou trabalhando e os seus companheiros olharam o milagre, estupefatos.
O fazendeiro desconfiado dos seus servos pensou: “Será que eles foram trabalhar, vou dar uma olhada”. Pegou seu cajado para eventualmente dar uma surra nos preguiçosos. Aí ele escutou um canto e depois viu um dos seus servos trabalhando com a vela acesa no arado. O cajado caiu da mão do fazendeiro e ele começou a chorar amargamente. Seu coração amoleceu, seus olhos começaram a brilhar e com voz firme, mas suave, disse: “Chega de trabalhar. Vamos quebrar o pão da Páscoa”. Pegou os pães e os repartiu com todos.
Desde àquela hora o fazendeiro tratou bem seus empregados, repartiu as colheitas com eles e todos trabalharam felizes.
José Paulo Moreira da Fonseca (Inspirado por Tolstoy)
Livro Viver a Páscoa, Edições Monte Azul / Ilustração de Susanne Rotermund
