

Neste primeiro semestre de 2023, a inspiração para o pano de fundo do curso Mainumby – Formação de Educadores Comunitários é o conto/mito de criação do mundo pela tradição cultural tupi-guarani. É sempre um convite, aprender sobre a perspectiva ancestral que dá origem a muitas tradições do nosso imaginário brasileiro e por isso, a cada encontro, refletimos sobre os elementos que a história nos traz, fazendo uma relação com o pensamento antroposófico, proposto por Rudolf Steiner. Mainumby,a formação em educação comunitária, também nos relembra a cultura popular indígena, que é viva e muito diversa.
Para os guaranis, a criação da Terra se deu através da emanação de Nhamandú, Kuaray e Tupã, divindades guarani,. Nhanderuvuçú, a primeira alma humana e pequeno criador se dirige aos quatro cantos da Terra para viver e aprender com a pedra, a planta e o animal ancestrais e receber do Espírito da Terra um corpo humano. O trecho a seguir relata um trecho desta caminhada:
“[…] Então ele sai e se dirige ao sul. Lá ele encontra a primeira árvore do mundo. Pindovy. A palmeira ancestral. E ele diz:
– Ei, você pode me ensinar a viver na Terra?
– Sim. Claro. Entre em mim.
Assim ele entrou, tornou-se frondosa árvore. Foi quando sentiu suas raízes bem fundas, captando a umidade e o frescor da terra, e gostou.
– Que coisa boa! – Ele sentiu. Era a umidade das raízes em contato com o chão. Era a verticalidade alta do tronco indo para o alto e se espalhando em uma cabeleira de folhas que dançavam ao sopro do vento.
Era muito bom tudo isso! Era sentir-se fixo e alto. Era sentir a ponta das raízes bem no fundo, sendo alimentada pela própria terra. Era o tempo passando nesta postura altiva, às vezes recebendo sol, às vezes chove, às vezes nuvens. Até que um dia:
– Pronto.
– Pronto o que?
– Pode sair. – disse o espírito da árvore – você já aprendeu comigo.
Continue sua jornada, há muitos seres que podem lhe ajudar nesta sua tarefa […]”
A caminhada de Nahnderuvuçú descreve em imagens o desenvolvimento físico, emocional e espiritual de cada criança, assim como de toda humanidade.
Com esse olhar sensível, ao mesmo tempo em que transmite o conhecimento instrumental sobre educação, as oficinas e grupos de troca também possibilitam que os participantes acessem um nível sutil e subjetivo da essência que guia a formação Mainumby, que é integrar os conhecimentos e diversidades culturais através de uma linguagem artística.
Nesse semestre, temos oficinas artísticas de confecção de bonecas, desenho de formas, pintura em aquarela e jogos cooperativos; cada uma dedicada especialmente a um dos elementos terra, água, ar e fogo e aos nossos corpos físico, etérico, astral e Eu, descritos pela cosmovisão antroposófica.Os grupos de trocas acontecem divididos por área de atuação dos participantes (faixa etária do público atendido) e promovem o diálogo entre todos sobre temas atuais de sua prática pedagógica.
Este curso representa a finalização de um curso piloto, preparatório para a prevista pós-graduação em Educação Comunitária Waldorf em parceria com a Faculdade Rudolf Steiner e que é estruturada nos eixos:
Construção do conhecimento a partir da vivência; Docência compartilhada entre profissionais do saber prático e do saber acadêmico; e Financiamento fraterno.
Acreditamos no aprendizado compartilhado e vivenciado. Por isso, os encontros sempre contam com músicas, histórias, movimento e teoria. Para além do saber teórico, a formação faz um resgate na expressão corporal, abrindo espaço para as subjetividades dos participantes e para a construção quebrada um vai fazer a partir do mesmo conteúdo.
As possibilidades são imensas e é bonito ver a trama que se tece a cada encontro.
Texto de Isabel Rocha e Susanne Rotermund