











Os encontros de Integração têm como principal objetivo fortalecer o espírito Monte Azul e cultivar a missão, a visão e os valores da Associação. A partir de um tema anual, são realizadas atividades diversas que promovem trocas, reflexões, inspirações e aprendizados.
Ano passado, o tema do ano era nossa relação com a terra. Esse ano, é a Diversidade humana, nos aspectos físicos, dos sentimentos e das vontades. A partir deste espaço comum, podemos refletir, vivenciar e expandir nossa compreensão sobre o tema.
Na Integração de março, no Horizonte Azul, o tema era Diversidade étnico-cultural brasileira. Tivemos a honra de receber em nossa chácara, a historiadora e pesquisadora Marli Pereira, especializada na História do Brasil, que começou o dia saudando diferentes divindades que protegem a Terra, trazendo à tona o tema que seria abordado durante toda aquela ensolarada sexta-feira: a diversidade étnico-cultural.
Fomos provocados a invocar, através de lembranças afetivas nossos ancestrais, e nesse simples exercício povoamos a sala com uma grande diversidade de povos e culturas, dos que vieram de outras partes do mundo e também dos povos que aqui já habitavam há milhões de anos.
No Censo de 2010, o último realizado, constam 305 povos originários, cada um com seu modo de pensar, de comer, de falar, de educar suas crianças, de se relacionar com a terra.
Essa diversidade faz com que o Brasil seja o único país do mundo onde é possível encontrar mais de 10 tipos de cabelos diferentes.
Por isso é necessário repensar nossas formas de falar, de se referir ao outro, com mais respeito e empatia, pois são traços de identidades de seus antepassados e não podemos perpetuar conceitos ultrapassados.
Essas misturas, apesar de dolorosas, favoreceram essa diversidade cultural e étnica de nosso país, e é nesses aspectos positivos que devemos abordar com as crianças, lembrando situações amorosas. As dores desse processo de miscigenação, segundo a pesquisadora, devem ser resolvidas internamente, num processo de autoeducação sobre como lidamos com essas dores do passado.
E não é só cabelo.
Temos no Brasil, através de seus povos originários, uma enorme diversidade de modos de pensar sobre educação, formas de se pensar como cuidar da pele, do cabelo, cuidar dos filhos, cuidar do crime, cuidar da homossexualidade, que não precisaríamos nos dedicar a estudos de pensadores e filósofos estrangeiros.
O povo Marubu, originário da Amazônia é um exemplo disso.
Segundo a Profª Drª Nelly Duarte Varen Memo, o povo Marubu tem um jeito de conhecer o outro completamente distinta do nosso modo de pensar.
Para os Marubus, é preciso conhecer o modo de ser do outro, quem o outro é, para que seja possível se tornar alguém melhor.
O que o outro usa, o que o outro se alimenta, o que o outro pratica.
Tudo isso é importante conhecer pois quanto mais temos o conhecimento, mais temos facilidade de saber quem somos.
Quanto mais te conheço, mais eu sei quem sou.
O conhecimento não é para julgar o que o outro é, e sim para juntos tornarmos melhores.
A esse conhecimento chamamos de a Arte da Diplomacia do Encontro.
E para nos ajudar a desenvolver em nós a escuta, Marli nos presenteou com uma inspiração do povo Tupi: Os Sete modos de escuta.
1 – Ouvido Esquerdo (Kat’Mie) – É a escuta passiva (com paz), sem direcionar a fala do outro, sem filtro, acolhedora.
2 – Ouvido Direito (WaK’Mie) – É o ouvido propositivo, que impulsiona. Uma escuta ativa.
3 – Ouvido Terra – É o que escuta com o corpo, que percebe o ambiente.
4 – Ouvido Água – É a escuta que capta sentimentos e emoções. Pescadora de afetos. Flui como água: ora como cascatas, ora como corredeiras.
5 – Ouvido Ar – É a escuta filosófica, reflexiva, presente nos curadores de alma. Constroem futuros possíveis e histórias imprevistas.
6 – Ouvido Fogo – É a escuta intuitiva, que desperta caminhos e ideias e te convoca para a ação. É escutar no outro, caminhos para si mesmo.
7 – Todos os ouvidos integrados – É quando todas as outras escutas se integram de forma ampla para que seja possível agir de forma competitiva e cooperativa, simultaneamente, estimulando uns aos outros a serem os melhores que podem ser em prol do todo, de um mundo melhor.
Precisamos aprender com os povos originários esta cultura de paz, a escutar com todos os ouvidos o que o outro nos traz, servindo uns aos outros para o bem comum, sem brigas, sem mortes, sem guerras, sem ofensas…
Encontrar no outro a paz que nos falta.
Transformar é possível!
Após a palestra, os participantes foram divididos em pequenos grupos, para as seguintes oficinas voltadas à diversidade étnico-cultural:
1. Cultura boliviana
2. Cultura indígenas Hunikuin (Acre)
3. Carimbó (Pará-Amazônia)
4. Pintura com terra colorida, indígenas Pataxós (BA)
5. Canção e cultura japonesa
6. Canção da Espanha
7. Transição capilar afro
8. Batuque mineiro e cantigas de jogar versos (MG)
9. Doce de mamão verde (BA)
10. Bolo de pão caseiro (BA)
11. Trançados com fibras de bananeira
12. Culinária com o coração da bananeira
13. Macramê
Texto sobre a vivência de março de Luiz Fernando Machado, colaborador do Projeto Ser Ambiente