
Este mês celebramos o advento. Uma das formas de introduzirmos as épocas do ano nas atividades pedagógicas é trazendo contos, mitos, histórias e vivências que remetam ao período, levando em consideração não somente as referências europeias, mas também as brasileiras, indígenas, africanas e o repertório do/a educador/a de referência. Na oficina “Diversidade religiosa em diálogo com as épocas cristãs”, realizadas com alguns colaboradores buscamos encontrar em todas as festas cristãs a essência do impulso crístico cuja expressão podemos encontrar também em outras grandes culturas e tradições. O educador Micael, do Caminhando Juntos, faz parte da cultura iorubá e por meio da afrosofia (filosofia africana) nos presenteou com um conto que pela nossa surpresa se assemelha muito à narrativa tradicional sobre as quatro semanas do advento, que compartilhamos por aqui.
O nascimento de Oxum
Contam os nosso ancestrais africanos, que logo no princípio dos tempos Olodumare criou a terra e as pessoas que nela viviam. A terra era seca e árida existia pouca vegetação.
Dentro dos sentimentos humanos e ancestrais já existia a angustia, dor, medo e a morte. Obatalá foi se entristecendo porque tudo que foi criado até o momento só causava dor e abandono, pragas surgia. Então ele percebe que está faltando alguma coisa e pede a Olodumare para ajuda-lo e orienta-lo de alguma form. Olodumare faz com que o dia se torne noite e ele observa lá de longe uma linda e brilhante estrela dourada.
Então ele pede para Obatala ir até o centro do mundo que lá tem uma árvore seca. E lá todos os povos e todos os seres deveriam ir e presentea-la, assim surgiria tudo o que Obatala precisaria para a terra. Dessa forma Obatala junta as pessoas e todos os seres que ali havia, não eram muitos. Todos ofertam o que eles têm de melhor sobre aquela árvore. Então Olodumare estende a sua mão, pega aquela brilhante estrela e coloca no centro da árvore. E o brilho forte da estrela foi se esticando, esticando e surgiu uma mulher. Uma bela mulher, a mais linda mulher que havia pisado sobre a terra. E do seu corpo por suas vestes brotou água doce formando uma linda e extensa cachoeira.
E essa mulher que olha para todo o planeta terra, o centro da terra que é o coração da África, assim conta os Iorubás.
Ela percebeu que tinha uma missão, de andar pelos quatro cantos do mundo. E assim o faria em quatro dias. Então ela foi em direção ao primeiro canto da terra e quando ela tocou o solo percebeu que estava no reino das pedras. Pegou sua mão e do seu corpo saiu uma espécie de pó dourado, ela foi tocando as pedras e dali começaram a surgir as mais belas das pedras, ouro, diamantes, pedras muito bonitas surgiram. Por onde suas águas passavam e tocavam, chegava a beleza e a vida, e assim foi o primeiro dia.
No segundo dia ela caminha para o reino vegetal e de suas águas começam a brotar flores, frutas, legumes, diversas espécies de árvores e sementes. E toda a terra foi florindo, ficando mais verde e a luz e a vida surgiam em tudo que seu fio dourado tocava.
No terceiro dia ela foi até o reino animal, tocando as aves que ficaram coloridas e voavam em direção aos céus. Os oceanos e os rios começaram a ganhar peixes coloridos e outros animais aquáticos. Na terra surgiram animais bonitos e diversos.
E assim ela finaliza o terceiro dia. Espalhando sempre o seu pó dourado em suas águas pelos rios e oceanos que se espalha por toda a terra.
E no último dia ela chega em uma tribo, onde vivia algumas poucas pessoas e percebe que havia uma mulher com uma barriga muito grande, que gritava de dor. Ninguém sabia como fazer o parto então ela foi tocando naquela mulher fez seu parto e assim foram nascendo as crianças, várias crianças.
Com seu espelho dourado todas as vezes que uma criatura ou um ser humano perdesse a sua beleza por qualquer dor, essa mulher mostrava a beleza interior que cada um tem. Porque todos possuem parte do seu pó dourado.
O pó da estrela, o pó da criação.
E assim todos, após Obatala ver que ela conseguiu trazer a beleza e a vida para todo o planeta terra, toda a criação começa a cantar.
Iyè iyè iyè ò
Iyè iyè iyè ò
Iyá osun n’ilé
Iyè osun n’ilé
Iyá osun n’ilé
Iyè osun n’ilé
Omó n’ilé
Okón mimó
Iyá tunde ilesá
Iyá tunde ekú agbó
Omi irè ò iyè
Ekú agbó irè ò
Ekú agbó ijexá
Ekú agbó irè ò
Ekú agbó ijexá
Iyè iyè omó
Iyé iyé
Iyè iyè ò irè
Iyè iyè